Dengue em Ribeirão e Franca: infectologistas alertam para cenário pior em 2025 e provável circulação de novo sorotipo
28/12/2024
Cidades registraram, juntas, 41 óbitos até o dia 10 de dezembro de 2024. Doença foi mais comum na população de 20 a 39 anos, mostram dados da Saúde. Aumento dos casos de dengue em Ribeirão Preto preocupam profissionais de saúde
A dengue assustou a região em 2024, mas o ano que chega promete um cenário ainda pior nos casos da doença.
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Uma das principais causas, segundo Fernando Belíssimo Rodrigues, infectologista da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP), pode ter relação direta com o aquecimento global.
"Ao que tudo indica, existe uma tendência de se piorar e essa tendência se baseia em alguns fatores. O primeiro deles é o aquecimento global. Nós estamos, cada ano, batendo recordes de temperatura e, quanto mais quente o planeta fica, melhor fica para o mosquito em termos de reprodução".
Rodrigues explica que o Aedes aegypti tem reprodução facilitada no ambiente quente, o que não acontecia anos atrás, quando os inversos eram mais rigorosos.
"Quando a gente tinha, no passado, invernos mais rigorosos, o que acontecia é os mosquitos desapareciam no inverno e aí alguns poucos começavam com quem em setembro, outubro, com o final da chuva, levava-se três, quatro meses para ter uma massa crítica de mosquito. Hoje isso não acontece mais porque nós não temos mais inverno e estão tendo caso agora, já no fim do ano, quando era para ter em fevereiro, março do ano que vem".
Dengue em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
De janeiro até o dia 26 de dezembro, Ribeirão Preto (SP) registrou 43.444 ocorrências e 21 óbitos. A população entre 20 e 39 anos foi a mais acometida.
Em Franca (SP), no mesmo período, foram 9.524 casos confirmados e 20 mortes, e a população na mesma faixa etária de Ribeirão foi a que mais sofreu com a dengue. A cidade experimentou pela primeira vez os efeitos do vírus, que até 2000 não era tão presente assim.
Para o infectologista Homero Rosa, a situação deve se manter também em 2025.
"Como a gente mudou totalmente o panorama da epidemiologia da dengue aqui em Franca, de 2020 para trás era uma situação e de 21 para cá aumentou de maneira importante, é provável, bastante provável, que nós tenhamos em 2005 uma continuidade muito grande de casos graves e, às vezes, até óbitos".
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O sorotipo da dengue que circula na região também pode surpreender no próximo ano e isto significa que um novo vírus seria ainda mais preocupante.
Dos quatro tipos existentes, Ribeirão Preto e Franca tem, historicamente, registros do 1 e do 2. Em 2025, segundo Rodrigues, é possível que a região passe a receber o 3, o mais grave de todos.
"O receio é que possa chegar ao tipo três no ano que vem. Ele já foi identificado em outras regiões do estado e isso poderia representar um aumento nos casos da forma hemorrágica, porque quando você tem uma população que já tem grande imunidade contra um sorotipo e chega um sorotipo novo, isso costuma aumentar o número de formas hemorrágicas, então é uma possibilidade, sim, que possa acontecer no ano que vem".
Exame para diagnóstico de dengue em Ribeirão Preto
Reprodução/EPTV
Dengue longa
Outro ponto observado em 2024 foi a duração mais longa dos sintomas da doença. Algo que durava em torno de sete a 14 dias, hoje ultrapassa um mês, afirma Rosa.
"É uma doença que a gente já está chamando de dengue longa, como teve Covid longa. Quer dizer, longa na permanência, longa de sintomas. Porque era uma doença de sete dias, e agora há pessoas com um mês, dois meses, três meses ainda com alguns sintomas. Não todos os sintomas iniciais, mas alguns sintomas importante que a pessoa, às vezes, está sentindo por até 60 dias ou mais".
Unidades de Franca, SP, contam com salas de hidratação para pacientes com dengue
Reprodução/EPTV
Para Rodrigues, a doença é a mesma, só está se tornando mais frequente.
"A fase aguda da doença dura sete dias, a febre, os sintomas mais frequentes. Porém, a convalescença, habitualmente, dura semanas. Não é e nunca foi incomum a pessoa passar um mês com dor muscular, com dor articular mesmo depois da fase aguda. A febre é que dura sete dias".
Ainda segundo os infectologistas, outros sintomas passaram a ser considerados ao longo dos anos e hoje há casos de hepatite e até problemas no coração.
"É claro que o nosso entendimento sobre a doença aumenta e isso leva a gente a ter uma impressão que a doença mudou. Por exemplo, hoje, a gente sabe que dengue grave pode afetar o coração, quer dizer miocardite. Há 15 anos, isso era desconhecido ou era muito pouco conhecido, então a gente não procurava, não fazia exame cardíaco dos pacientes, porque a gente não sabia que causava isso", diz Rodrigues.
Dengue em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
"Algumas coisas aconteceram no curso da dengue que nos surpreenderam negativamente, que foram os sintomas, até então não comuns, sintomas fora daqueles clássicos. O que mais deu de repercussão aqui em Franca foi a hepatite. Quase todo mundo que teve dengue, teve hepatite junto, causada pelo vírus da dengue. E, algumas vezes, com sintomas muito fortes e algumas pessoas aí realmente ficarem em situação delicada", conta Homero.
Hidratação e repouso continuam sendo cruciais para o tratamento da dengue, mas o acompanhamento médico é absolutamente necessário dia após dia, tão logo apareçam os primeiros sintomas.
E a vacina?
O g1 procurou o Ministério da Saúde para falar sobre a cobertura vacinal em 2024 e a expectativa para 2025, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, de fevereiro até o dia 2 de dezembro, Franca imunizou 5,99% da população-alvo (adolescentes entre 10 e 14 anos) em primeira dose e 3,57% em segunda dose.
O Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) da cidade administrou 1.561 vacinas em primeira dose e 930 segundas doses.
Em Ribeirão Preto, foram 15.026 vacinas em primeira dose e 6.368 segundas doses, resultando nas adesões de 18,75% e 7,95%.
De acordo com a prefeitura, há cerca de um mês, a rede municipal 'recebeu uma pequena quantidade de vacinas', e ainda há imunizante para iniciar esquemas com a primeira dose para a faixa etária indicada.
Vacinação contra a dengue em posto de saúde em Ribeirão Preto, SP
Fernando Gonzaga
Segundo a pasta, cada município é responsável pela estratégia de imunização contra a dengue, conforme as orientações do Ministério da Saúde.
Em todo o estado, foram administradas 537.252 vacinas em primeira dose e 230.015 segundas doses, correspondendo a coberturas de 22,35% e 9,57%, respectivamente.
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